Portugueses são adeptos a investimentos de risco

A complexa tapeçaria financeira global tem sido tecida com filamentos de incertezas e volatilidade nos últimos anos. Com uma conjuntura europeia pautada por inflação ascendente, taxas de juros elevadas e um cenário geopolítico instável, sobretudo com conflitos como a guerra entre Rússia e Ucrânia e as crescentes tensões entre Israel e Palestina, os investidores enfrentam um desafio ímpar. Nesse ambiente, os portugueses têm se destacado ao evidenciar uma propensão para investimentos de risco, demonstrando resiliência e uma estratégia de manejo financeiro notável. Vamos entender isso melhor.

O Cenário Econômico Europeu

A atual dinâmica financeira na Europa é marcada por uma série de obstáculos econômicos. A inflação, apontada como uma das principais inimigas da estabilidade econômica, tem sido um persistente desafio, exigindo uma atuação estratégica do Banco Central Europeu (BCE). O BCE, confrontado com pressões inflacionárias, tem sido impelido a elevar as taxas de juros numa tentativa de atenuar a “espiral da morte” de subida de preços e estabilizar as economias da zona do euro.

A Inclinação Portuguesa para Investimentos de Risco

No quadro dos investidores portugueses, observa-se uma tendência peculiar: uma atração perceptível para os investimentos de risco. Diversos estudos e análises de comportamento do investidor evidenciam que, apesar das turbulências e incertezas do cenário económico global e europeu, os portugueses têm se aventurado em investimentos mais arriscados, como criptomoedas, ações de empresas de tecnologia (principalmente empresas ligadas a inteligência artificial), fundos de investimento com foco em mercados emergentes e opções binárias. Um estudo que analisou milhares de acessos a uma página de cadastro de uma das maiores corretoras de opções binárias (página binary.com create account) indicou um aumento no interesse de portugueses por esse tipo de investimentos de risco.

Motivações e Estratégias

A pergunta pertinente aqui é: por que esta apetência por investimentos de risco? Uma das respostas pode residir na busca por retornos mais elevados, que geralmente caminham de mãos dadas com investimentos de maior risco. Neste caso, a motivação pode ser impulsionada pela tentativa de maximizar os ganhos e acumular um capital significativo que possa fornecer uma certa imunidade contra a instabilidade financeira que permeia o continente.

Adicionalmente, podemos pensar que os investidores portugueses têm adotado estratégias diversificadas, equilibrando seus portfólios com uma mistura de ativos de risco elevado e moderado, proporcionando, assim, uma proteção parcial contra possíveis choques financeiros adversos.

Mas existe um motivo maior por trás de tudo isso:

Mercados de ações em baixa, riscos em alta

Quando os ventos sopram a favor dos mercados de ações, participar da euforia financeira que permeia o ambiente de investimentos tende a ser uma estrada relativamente tranquila para a prosperidade financeira. Em períodos de alta, a compra de ativos voláteis, muitas vezes, recompensa os investidores com retornos positivos, seguindo a ascendência da tendência geral do mercado. Neste contexto, até os ativos de empresas com fundamentos menos sólidos podem experimentar valorizações, proporcionando oportunidades vantajosas para investidores perspicazes e, por vezes, até para os novatos na arena financeira.

No entanto, quando a maré vira e o cenário torna-se desfavorável para ações, a complexidade de ganhar dinheiro através da renda variável se intensifica. O presente ambiente econômico, com o Banco Central Europeu (BCE) em uma tentativa rigorosa de domar a inflação crescente através da elevação das taxas de juros e da aplicação de uma política de “quantitative tightening” (QT), proporciona um desafio multifacetado para os investidores. O QT, que envolve a redução da folha de balanço do banco central através da venda de títulos, tem o efeito de absorver a liquidez do mercado, impactando consequentemente os preços dos ativos e, em última instância, colocando pressão descendente sobre as ações.

Em cenários como esse, onde os mercados estão debaixo de pressão e a direção geral das ações é descendente, alguns investidores procuram capitalizar sobre a desvalorização dos ativos por meio de operações “short” ou de venda a descoberto. Operações short envolvem a venda de ativos que o investidor não possui, com a expectativa de que seu valor diminuirá para que possam ser recomprados por um preço mais baixo no futuro, gerando, assim, um lucro na diferença.

No entanto, as operações short carregam consigo um risco significativo e requerem uma profunda compreensão das dinâmicas do mercado, bem como uma habilidade para navegar com astúcia através das oscilações do mercado, que podem ser voláteis e imprevisíveis. Além disso, apostar contra o mercado ou ativos específicos pode resultar em perdas substanciais, especialmente se o mercado não se mover na direção antecipada.

A delimitação clara entre ganhar dinheiro facilmente em mercados ascendentes e enfrentar desafios maiores em mercados decrescentes sublinha a necessidade de uma estratégia de investimento bem fundamentada, uma gestão de risco robusta e um entendimento claro dos variados instrumentos financeiros e tácticas disponíveis para maximizar os retornos e minimizar as perdas em todas as condições de mercado.

Geopolítica e o Impacto nos Investimentos

A geopolítica global, especialmente os conflitos prolongados na Ucrânia e no Oriente Médio, desempenha um papel vital nas decisões de investimento. As guerras e conflitos tendem a gerar incertezas que reverberam pelos mercados financeiros globais, influenciando taxas de câmbio, preços de commodities e índices de ações. Os investidores portugueses, mantendo uma visão perspicaz sobre estas ocorrências, ajustam suas estratégias para mitigar os potenciais impactos negativos dessas situações geopolíticas sobre seus investimentos.

Ressalvas

A propensão dos investidores portugueses para abraçar investimentos de risco, mesmo em face de um cenário económico e geopolítico instável, fala volumes sobre uma abordagem financeira ponderada, porém assertiva. Esta aproximação é caracterizada por uma busca estratégica por rendimentos robustos, mas também reflete uma diversificação criteriosa para se proteger contra eventuais contratempos econômicos.

É imperativo sublinhar que, enquanto a postura portuguesa perante investimentos de risco tem seu próprio conjunto de méritos, ela também encerra desafios e exposições a volatilidades que, por vezes, são imprevisíveis e implacáveis. Nesta dança intrincada com o risco, a sustentabilidade e a preservação de capital continuam a ser componentes cruciais que devem ser sagazmente gerenciados para navegar com sucesso através das águas por vezes tumultuosas dos mercados financeiros globais.

Além disso, vale mencionar que investidores de varejo costumam agir por emoção e, muitas vezes, na tentativa de recuperar prejuízos, acabam perdendo todo o seu capital.